Lei do Sangue: uma década de fortalecimento da saúde pública brasileira
Notícia publicada em: 01.04.2011
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Assunto: Sala de coleta de sangue no HemoRio / Local: Rua Frei Caneca – Rio de Janeiro – RJ / Data: 29/09/2010
A Lei do Sangue é vista como um marco histórico para um país que nos anos 1980 havia presenciado a morte de milhares de pessoas, sobretudo hemofílicos, por Aids, devido a transfusões de sangue contaminado pelo vírus HIV , e que na década seguinte, mais especificamente em 1995, passou a investir na importação de hemoderivados. Com a norma, o Brasil avançou consideravelmente e, já em 2001, passou a coletar o plasma brasileiro e enviar para o exterior, para ser beneficiado e retornar ao País como hemoderivados. Isso possibilitou que os medicamentos fossem fabricados com um plasma rico em substâncias próprias do perfil epidemiológico dos brasileiros. Os hemocentros foram estruturados e hoje formam uma rede confiável, a exemplo da Fundação Hemope, que realiza testes de triagem do sangue com padrão de qualidade semelhante ao que ocorre nos países mais desenvolvidos.
[FOTO2+] “A nova lei previa o sangue seguro, que não faltasse para quem precisasse dele, e permitia ao Brasil ter uma fábrica de hemoderivados. Já temos sangue de qualidade comparável aos melhores níveis do mundo, que atende aos brasileiros gratuitamente. E em 2004 foi criada a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), cuja fábrica está em construção em Goiana-PE, a 63 quilômetros do Recife”, afirma o diretor técnico da Hemobrás, o médico hematologista Luiz Amorim. A unidade fabril, que deverá estar em plena operação em 2014, usará o plasma brasileiro como matéria prima para a produção dos seis hemoderivados de maior consumo no mundo: albumina, imunoglobulina, fator VII, fato IX, fator de von Willebrand e complexo protrombínico.
Estes medicamentos são essenciais para milhares de brasileiros – mais especificamente 7 mil hemofílicos tipo A; 1,5 mil hemofílicos tipo B; 3 mil pacientes com doença de von Willebrand; e 1,5 mil pacientes com imunodeficiências primárias – poderem sobreviver, além de um número variável de pessoas que podem apresentar enfermidades que exijam administração de albumina ou de imunoglobulina em algum momento da vida, número este que não é inferior a 50 mil pacientes por ano. Atualmente, as redes pública e privada no Brasil despendem, por ano, R$ 800 milhões na importação de hemoderivados. Estudos econômicos mostram que a fábrica da Hemobrás custará em torno de R$ 540 milhões e se pagará em três anos a partir do início de sua produção, previsto para 2014.
Mas não se trata apenas da economia para os cofres públicos e redução da dependência do mercado externo. A Hemobrás vem realizando auditorias permanentes em serviços de hemoterapia brasileiros – este ano serão 110 estabelecimentos – para melhorar a qualidade e a quantidade do plasma. Atualmente, o Brasil envia 150 mil litros de plasma por ano para ser processado em hemoderivados na França. Sua planta industrial terá capacidade para processar 500 mil litros de plasma anualmente. Para atingir esta marca num futuro próximo, também é fundamental uma maior conscientização da população para a doação.
O sangue doado nos hemocentros beneficia milhões de pessoas todos os anos por meio da transfusão, mas o que muitos ainda desconhecem é que o plasma sanguíneo pode salvar ainda mais vidas. Cerca de 80% do plasma doado não tem demanda para a prática transfusional, mas pode ser transformado em hemoderivados. Após a doação voluntária nos hemocentros, o sangue é dividido em concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, ambos 100% aproveitados nas transfusões, e plasma, que tem menos indicações transfusionais. Uma bolsa de sangue beneficia três pessoas com a prática transfusional de cada um destes hemocomponentes. Já o plasma excedente, transformado em medicamentos hemoderivados, pode ser utilizado por até 60 mil pessoas, não só melhorando a qualidade de vida, mas salvando vidas.