Hemobrás e Fiocruz vão desenvolver teste com tecnologia NAT para hepatite A e Parvovírus B19

31 de julho de 2025

A Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás) e a Fiocruz firmaram, nessa quarta-feira (30/7), uma cooperação para o desenvolvimento de um teste molecular inédito para detecção de hepatite A e Parvovírus B19 em plasma sanguíneo. O kit de testagem, 100% nacional, visa garantir a biossegurança e o alto padrão de qualidade na produção de medicamentos hemoderivados no Brasil, voltados para o tratamento, por exemplo, de infecções, queimaduras graves, sangramentos, coagulopatias (como a hemofilia) e doenças autoimunes (como a Síndrome de Guillain-Barré).

O teste terá como base a tecnologia já consolidada utilizada no teste molecular NAT Plus, produzido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) para a detecção de HIV, hepatites B e C, e malária em hemocentros brasileiros. Intitulado NAT Plasma Hemobrás, o novo kit será específico para atender os processos da estatal, mas seguirá os devidos padrões industriais nacionais e internacionais.

Os medicamentos hemoderivados são produzidos a partir do plasma excedente captado nas doações de sangue voluntárias realizadas pela população brasileira junto à hemorrede nacional (gerenciada pela Hemobrás), formada pelos hemocentros públicos e serviços de hemoterapia privados. De acordo com o Ministério da Saúde, apenas em 2023 (dados mais recentes), cerca de 3,2 milhões de bolsas de sangue foram coletadas no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2024, a Hemobrás recolheu uma quantidade recorde de 200,2 mil litros de plasma excedente e, para 2025, a expectativa é chegar a 250 mil litros captados. A futura adoção do teste desenvolvido pode permitir a testagem sistemática de grandes volumes de plasma coletados, garantindo a eliminação de unidades potencialmente contaminadas e a redução do risco de transmissão viral por imunoglobulinas e outros derivados.

Com a inauguração da fábrica da Hemobrás em agosto de 2025 e o início da produção em 2026, o Brasil deixará de enviar plasma para fracionamento no exterior, consolidando a autossuficiência na produção de medicamentos estratégicos como imunoglobulinas, albumina e fatores de coagulação. Sem a parceria para o desenvolvimento do novo teste, o país continuaria dependente de insumos estrangeiros para realizar essa etapa do controle de qualidade e biossegurança.

Em solenidade no campus de Manguinhos da Fundação, no Rio de Janeiro, a indústria de medicamentos estatal federal assinou um termo de cooperação com Bio-Manguinhos/Fiocruz.

“A Fiocruz é uma instituição reconhecida por sua longa trajetória em pesquisa aplicada, inovação e no desenvolvimento dos kits para diagnóstico validados nacionalmente. Essa cooperação oferece um suporte técnico-científico crucial para que a Hemobrás possa fortalecer nossos já eficientes processos de controle da qualidade do plasma, minimizando riscos sanitários e permitindo que a nossa produção 100% nacional tenha parâmetros tão seguros e eficazes quanto aqueles adotados pelo nosso fornecedor internacional. Além disso, é uma parceria que fortalece a base científica nacional e o Complexo Econômico e Industrial da Saúde [Ceis]”, afirmou a presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes.

Presidente da Fiocruz, Mario Moreira afirma que a parceria com a Hemobrás é mais uma ação de fortalecimento do SUS e trará ainda mais segurança no uso de hemoderivados. “São duas instituições públicas e estratégicas do Estado, comprometidas com a saúde de milhões de brasileiros e em oferecer produtos com eficácia e eficiência para o SUS. Essa cooperação reforça a Rede de Serviços Hemoterápicos do Brasil e o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Hemoderivados, contribuindo para o aprimoramento da política nacional de sangue e hemoderivados, referência mundial pela sua excelência”.

A Fiocruz, por meio de Bio-Manguinhos, assume papel estratégico no desenvolvimento do novo teste molecular para hepatite A e Parvovírus B19, liderando toda a parte técnica do projeto. O Instituto é responsável pelo desenho da reação molecular multiplex, pela customização das soluções integradas (kits, equipamentos e softwares), bem como pela elaboração da documentação técnica necessária para a validação e posterior implementação do teste. A execução do projeto está prevista para doze meses, com entregas programadas ao final de cada etapa e acompanhamento técnico.

Diretora de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Rosane Cuber Guimarães aponta que a incorporação do novo kit na parceria com a Hemobrás reforça a estratégia nacional de garantir a autossuficiência na produção de hemoderivados no Brasil. “Ao assegurar a qualidade e a biossegurança do plasma para fins industriais, o novo teste fortalece não apenas a cadeia produtiva, mas também a política pública de acesso a medicamentos estratégicos. A partir dessa parceria, as instituições federais de biotecnologia elevam seus padrões produtivos, alinhando-se às melhores práticas internacionais”, afirmou.

Metodologia NAT

O teste NAT (Nucleic Acid Testing) é uma metodologia de biologia molecular voltada à detecção precoce de material genético viral (DNA ou RNA) em amostras biológicas, como o plasma humano, antes mesmo da resposta imunológica do organismo. Ao reduzir significativamente a janela imunológica de detecção de agentes infecciosos como HIV, hepatites B e C, e, mais recentemente, malária, o NAT se tornou uma ferramenta essencial para garantir a segurança do sangue e de seus derivados. No Brasil, o desenvolvimento do NAT, um produto 100% nacional, foi conduzido por Bio-Manguinhos/Fiocruz a partir de 2002, por meio de um esforço articulado entre instituições públicas e o Ministério da Saúde (MS). Esse processo resultou na criação de um kit nacional com alto desempenho, menor custo em relação aos importados e capacidade de adaptação às necessidades locais.

Ao longo de duas décadas, a Fiocruz tem mantido um programa contínuo de pesquisa e desenvolvimento voltado à evolução dos testes, com destaque para a introdução da versão NAT Plus, que ampliou em toda a hemorrede o escopo da triagem para incluir o agente causador da malária. Estudos demonstraram a elevada eficácia do teste, inclusive em doadores assintomáticos e em regiões não endêmicas, prevenindo potenciais casos de transmissão transfusional. Essa capacidade de detecção precoce amplia significativamente a vigilância epidemiológica nacional, permitindo identificar e bloquear a circulação de agentes infecciosos antes que causem surtos ou coloquem em risco a segurança do sangue e de seus derivados.

A implementação do NAT Plus, primeiro kit diagnóstico do mundo a detectar a malária, elevou o Brasil ao mais alto patamar de segurança nas transfusões de sangue. A experiência acumulada com este projeto consolidou Bio-Manguinhos/Fiocruz como referência em diagnóstico molecular no país.

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Imunoglobulina

São proteínas produzidas pelos linfócitos B, tipo específico de leucócito (célula sanguínea) cuja função é reconhecer, neutralizar e marcar os antígenos para que estes sejam eliminados ou fagocitados pelos macrófagos. Ou seja, age como mecanismo de defesa do organismo contra infecções e agressões externas. 

Indicação – no âmbito terapêutico, é usada principalmente em pessoas com doenças neurológicas, deficiências imunológicas, doenças autoimunes e infecciosas, aids, púrpura, entre outras e no transplante de medula óssea. 

Fator de von Willebrand

É um fator pró-coagulante que circula no plasma sanguíneo. Ele aumenta a adesão de plaquetas ao endotélio lesado e, ao se ligar ao fator VIII, mantém adequados seus níveis plasmáticos. A deficiência quanti ou qualitativa desse fator caracteriza a doença que traz o nome do médico finlandês Erik Adolf von Willebrand, que a descreveu pela primeira vez em 1925. 

Indicação – portadores da coagulopatia de von Willebrand, vinculada a mutação no cromossomo 12, que se manifesta basicamente pela disfunção plaquetária associada à diminuição dos níveis séricos do fator VIII coagulante, existindo também casos raros de forma adquirida da doença. Essa é a doença hemorrágica mais comum e atinge cerca de 2% da população mundial. Ambos os sexos são afetados e os sintomas incluem sangramentos nas gengivas, menstruais prolongados, sangramentos excessivos após pequenos cortes, extração dentária e outras cirurgias.  

Fator IX

O Fator IX é uma das principais proteínas do sistema de coagulação e encontra-se deficiente em pessoas com hemofilia B. 

Indicação – pacientes com hemofilia B, doença genética cujos sintomas são semelhantes aos da hemofilia A.

Fator VIII

O Fator VIII plasmático é uma das proteínas essenciais do sistema de coagulação sanguínea e sua falta causa a hemofilia A, chamada de hemofilia clássica, doença genética ligada ao sexo.  

Indicação – usado no tratamento das pessoas com hemofilia A, doença caracterizada por hemorragias nas articulações, músculos, trato digestivo e cérebro. Como a doença é ligada ao cromossomo X, um homem (XY) com um gene anormal no seu cromossomo X terá hemofilia. No caso da mulher (XX), ela só apresenta a doença, se os dois cromossomos X estiverem afetados, o que é muito raro. Quando um só é atingido, ela poderá passar o gene ao seu filho. A incidência estimada da doença é de 1 para 5mil homens e 1 para cada 25 milhões de mulheres. O Fator VIII plasmático tem a mesma função do Hemo-8r (nosso fator VIII recombinante): combater sangramentos e realizar o tratamento profilático de pacientes com hemofilia A. A reposição do fator VIII restaura a hemostasia nesses pacientes. 

Entregas

Entregas em 2022: 82.981 frascos. 

Atualizado em 24/08/2022.

Albumina

Albumina humana é a principal proteína encontrada no plasma sangue. Sua síntese ocorre no fígado, pelos hepatócitos. Exerce papel fundamental na manutenção da pressão osmótica, distribuindo os líquidos corporais nos espaços intra e extravascular. 

Indicação – é usada no tratamento de grandes queimados ou de pessoas com hemorragias graves, cirrose, insuficiência renal, septicemias, e ainda em transplantes de fígado e cirurgias cardíacas. 

Hemo-8r
(Fator VIII recombinante)

O Hemo-8r é o nosso Fator VIII recombinante. Ele é o nosso primeiro produto registrado e distribuído com a nossa marca. O Hemo-8r é fundamental para a nova fase do tratamento da Hemofilia A no Brasil com a ampliação da profilaxia, que é a maneira mais eficaz para prevenir os sangramentos espontâneos e sequelas nas pessoas portadoras da coagulopatia.

Possui a mesma eficácia do Fator VIII plasmático, mas não depende das doações de sangue para ser produzido, o que vai permitir que a maioria das pessoas portadoras de Hemofilia A possam fazer o tratamento profilático no futuro.

Recombinantes

Medicamentos recombinantes são produzidos por engenharia genética através do uso da “tecnologia de DNA recombinante”. Nessa técnica, um gene responsável pela síntese de uma proteína específica, é inserido numa célula que será responsável pela expressão da mesma. Essa célula modificada se reproduz num meio com nutrientes e expressa uma grande quantidade da proteína. O produto final é obtido após a purificação da proteína e utilização na fabricação do medicamento.

Atualmente, temos um processo de transferência de tecnologia de medicamento recombinante com o laboratório Takeda, para a produção do Hemo-8r, o Fator VIII recombinante.

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